sexta-feira, 17 de abril de 2009

E o q era pouco se tornou um rio...


Qdo nos viu já estávamos de partida. As nuvens cobriam de cinza minhas lágrimas. O copo se espatifou na terra e o fogo queimou o último pedaço de papel. Com ele segredos de ódio. No mar, as imagens dos que ficaram se debatiam nas ondas, junto com suas tristonhas e medrosas angústias. Sem nenhum motivo sequer importante para voltar atrás, continuamos pelas dunas cremosas de orvalho. O lamento do vento nos acompanha e estremece as árvores. Suas raízes despertam com os ruídos e como se tentassem se defender do desconhecido, cada vez mais se aprofundam no solo. O terror dos dias que virão é pressentido por elas no timbre agudo que rebate suas folhas. – Por favor, tire suas vestes antes de entrar por esse abismo, dizia com letras enferrujadas a ponte da próxima ruína. Não pudemos nos despedir, pois era tarde, deixando aquelas criaturas sem explicação. Penso eu, como deveriam sofrer por isso. Que desesperança plantamos! Mas de nada adiantaria tentar-lhes explicar por causa da pragmaticidade inerente em suas bocas. O velho salgueiro nos mostrou certa vez que as palavras proferidas não significam nada além da quantidade de ignorância que cada um carrega consigo. E toda palavra proferida segue por si ignorante. A sabedoria se mostra no vazio das coisas, nos espaços em branco, no silêncio. A calamidade é urgente quando clama por socorro, mas não percebe ela o quanto nós somos incapazes perante as forças da natureza? Eis que tiramos nossas vestes, e de mãos dadas abaixamos sob o pequeno portão de pedras, recitando poesias em sânscrito para nos certificarmos daquele momento. É impotente aquele que não crê, pois a fé resgata a matéria então perdida nos sonhos, fortalecendo o espírito que pode portanto expressar-se sábio com melodias e músicas de tons perenes, de cores suaves, de formas translúcidas. Na dança do corpo-espírito as luzes se acendem, o sol resplandece, a vida brota. O medo e a ignorância se reunem com quietude e enfim dormem tranquilos.

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