terça-feira, 21 de abril de 2009

Em algum lugar: o espaço fêmea.


Rodopio após outro, se deslocando lentamente, vem chegando o inquieto rapaz. Parece uma criança, mas ainda não sei bem, pois seu olhar carrega todas as respostas de tudo que eu nunca soube. Ao mesmo tempo seu corpo leve e despreocupado energicamente se revira na fina areia branca desse outro lado do pequeno portão. Ele gargalha aos nos ver. E que sorriso puro! Nem imaginava que existia ser assim! Ao se aproximar, entre saltitos e pequenos passos, ele olha fixamente em nossos olhos, hipnotizando-nos, e nos entrega como se fosse um tesouro o qual contém a imensa sabedoria da vida, uma folha seca e velha, prestes a se despedaçar. Essa folha esteve guardada por bastante tempo em um livro que o menino esconde em sua roupa. Roupa esta de tom natural, como bege e marrom claro. Um tom de sujeira de terra por sobre um caramelo desbotado. Ele anda descalço e tem os cabelos grossos, brilhantes e abundantes. Além de despenteados. Ao ver que não temos onde guardar a folha, pois deixamos todas nossas vestes antes de chegar ali, o jovem retira de um arbusto próximo um galho que estava prestes a apodrecer. Sem esforço algum, o galho se quebra em suas delicadas mãos. Esfregando sutilmente esse galho, tem-se um pó grosso de madeira, que ao cair sobre a areia, se funde a ela como água, e um enorme e fino tecido claro surge dessa mágica inexplicável. Com esse tecido nos embrulhamos e nos protegemos, também a folha que o menino nos deu, da chuva densa que inicia com gotas fortes e doídas em nossas cabeças. Agora encharcado, ele humildemente se retira, nos observando com o canto do olho, enquanto sai devagar, pisando pelos calcanhares, até ser todo coberto pela nuvem de água que cobre também todo o ambiente. Nesse momento não podemos ver nada a não ser brancas nuvens no ar umidecido, tomado por uma claridade espetacular, como se estivéssemos pisando na terra dos céus, envoltos por um véu perolado que nos aquece, resultado da simples manipulação de um galho podre. Então ali, aquecidos pelo feitiço do menino, adormecemos na sombra rosada de um arbusto, durante o choro pleno da natureza viva e intensa nesse novo, desconhecido e intrigante local que buscamos por existências seguidas, e que finalmente se deixou encontrar.