segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

domingo, 28 de dezembro de 2008

Aproxima-se de 300 o total de mortos por ataque de Israel a Gaza

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Dom, 28 Dez, 06h32

Por Nidal al-Mughrabi

GAZA (Reuters) - Israel realizou neste domingo novos ataques aéreos contra instalações do Hamas na Faixa de Gaza e está posicionado para uma possível invasão do território. Dois dias de bombardeio israelense deixaram pelo menos 296 palestinos mortos. Mais de 700 estão feridos.

Israel disse que a campanha é uma resposta aos ataques com foguetes do Hamas, que se intensificaram depois de o grupo pôr fim a uma trégua de seis meses há uma semana.

Neste fim de semana, militantes dispararam cerca de 80 foguetes contra Israel, segundo serviços de emergência, menos do que alguns analistas esperavam.

Nos limites da Faixa de Gaza, tanques israelenses estão posicionados para adentrar o território, onde vivem 1,5 milhão de palestinos. O gabinete de Israel aprovou a convocação de 6,5 mil reservistas.

A ministra do Exterior de Israel, Tzipi Livni, que pretende se tornar a premiê nas eleições de 10 de fevereiro, aparentemente descartou uma invasão em grande escala à Faixa de Gaza, uma ação que restauraria o controle israelense na região.

"O nosso objetivo não é reocupar a Faixa de Gaza," disse ela a um programa da rede norte-americana NBC. Perguntada no canal Fox News se Israel derrubaria o governo do Hamas em Gaza, Livni respondeu: "Não agora."

Mark Regev, porta-voz do premiê israelense Ehud Olmert afirmou que Israel continuará com a campanha "até obter um novo ambiente de segurança, até a população não mais viver sob o terror e o medo de foguetes."

Perguntado sobre quanto tempo a operação duraria, Avi Benayahu, porta-voz militar, afirmou à TV israelense que a ação poderia levar "ainda muitos dias."

O porta-voz do Hamas Fawzi Barhoum fez um chamado para que os grupos palestinos usem em resposta "todos os meios disponíveis, incluindo operações de martírio," numa referência a atentados suicidas em Israel.

Depois dos ataques de sábado, um dos dias mais sangrentos em 60 anos de conflitos entre israelenses e palestinos, aviões de Israel destruíram a principal instalação de segurança do Hamas em Gaza neste domingo.

Israel bombardeou no sul de Gaza 40 túneis na fronteira com o Egito usados para contrabando.

Dezenas de palestinos cruzaram para o Egito através de buracos feitos com explosivos e escavadeiras no muro da fronteira. Atiradores palestinos trocaram tiros com a polícia egípcia, que, segundo testemunhas, prendeu vários que tentavam entrar no país.

VÍTIMAS

Israel afirmou que a grande maioria dos palestinos mortos era de militantes. O Hamas disse que 180 dos seus membros foram mortos. Um israelense foi morto por foguete atirado de Gaza.

Livni declarou que Israel está fazendo o máximo possível para atingir somente o Hamas e militantes, mas que "infelizmente numa guerra às vezes os civis também pagam o preço."

Analistas israelenses afirmam que os líderes do país, conscientes do risco de reocupar a Faixa de Gaza antes de uma eleição, estão tentando com os ataques forçar o Hamas a uma trégua de longo prazo.

Na Cisjordânia, soldados israelenses abriram fogo contra manifestantes palestinos que atiravam pedras. Autoridades médicas disseram que dois palestinos foram mortos.

Em Hebron, forças palestinas leais ao presidente Mahmoud Abbas, do Fatah, atiraram e feriram três pessoas durante um ato de grupos islâmicos a favor do Hamas.

No Cairo, Abbas acusou o Hamas de detonar os ataques israelenses, ao não ampliar a trégua com Israel.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas defendeu um cessar-fogo.

Grupos de ajuda humanitária disseram temer uma crise na Faixa de Gaza. Nos hospitais da região, os suprimentos estão no fim, devido ao bloqueio israelense ao território.


Materia original aqui



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sábado, 27 de dezembro de 2008

Quarto 666, um quarto em chamas!

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Há um mês um amigo me sugeriu irmos ao cinema. Achei melhor não, pq não me sentia bem, tava no início de uma gripe. Então decidimos ver um filme em casa. Era um filme que falava sobre cinema, a mesma pergunta era repetida a diversos cineastas e as respostas em geral eram curtas. Interessante pra mim foi ver alguns caras conhecidos, falando sobre o futuro do cinema, tais como Spielberg, Antonioni, Herzog, Godard, Fassbinder. Isso em 1982. Meu amigo não gostou pelo que notei, ele disse que era um filme ruim. Eu não achei um filme ruim, apesar de que também não diria ser um filme bom. Mas eu me abstraio facilmente, portanto, me perdi nas falas e em minhas próprias análises dos discursos ali traçados. Spielberg falava sobre as quantias astronômicas de dinheiro que o cinema começava a gerar. Ele é judeu não é? Será que isso é mesmo o que mais importa pros judeus? Godard dava uma idéia de que o rapaz poderia levar uma garota para ver um filme pornô em sua casa. Realmente esse rapaz seria bem inteligente. Herzog tira seus sapatos, numa atitude dramática que me convenceu. Enfim, as pessoas dificilmente não são verdadeiras quando estão sós num quarto. Mesmo que com um gravador e uma câmera ligados. No entanto, é bem fácil mentir em outras situações, por exemplo é bem fácil pra mim mentir enquanto escrevo esse texto e fazer as outras pessoas acreditarem que esse filme vale a pena ou que ele é uma droga. A internet é um lugar muito bom pra mentiras. Assim como o cinema. Umas das falas que mais me agradou foi de um diretor que nem estava lá, um oriental, não sei exatamente de que país. Ele foi bem realista e me fez pensar que nem tudo é o cerne. Ou melhor, o cerne não é tudo. Não diria que vale a pena ver esse filme, mas eu assistiria novamente.




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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Pai Natal!

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Pois é, estranhamente eu tenho uma relação legal com o Papai Noel...
Acho que já falei dele antes nesse blog. Nesse natal estivemos juntos! A minha crença no Papai Noel continua de uma forma bizarra. Mas deixa isso pros meus futuros psicólogos! Quem lê isso aqui deve no mínimo me achar um pouco louca, talvez idiota. Mas é melhor eu parar de me importar com a opinião dos outros.


****BOAS FESTAS!****









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domingo, 21 de dezembro de 2008

Baden Powell -

Ah! Tem dó!!!

Trash Girl!!

Mais um dia indo embora...
Me sinto mais ou menos como o Calvin sem o Haroldo. Perdi meu amigo invisível.. ele foi embora sem me dizer tchau. Na verdade ele disse, e foi bem grosseiro ao dizer isso. Ele disse assim: até nunca mais. Hehehe, acho até engraçado dizer isso. Nunca mais. Como se existisse. Como se dependesse de nós.
Meu amigo invisível tinha mesmo que ser um canalha. Bem mentiroso! Ele tinha mesmo que ser assim, não mereço considerações nem do meu amigo invisível. Eu sou trash mesmo.
E falando num amigo de verdade, esse anda dizendo que vai pra Nova Zelândia. Mas pq diabos a Nova Zelândia? Só tem cangurus por lá... ah, vai tomar banho.... Não to querendo ir pra Nova Zelândia, 16 horas de fuso! Que isso!
Pra que alguém quer ir pra Nova Zelândia??!!
Que tal Paris, que tal a Riviera Francesa, Nice? Que tal Egito? Marrocos, Líbano? Até Israel me parece mais atraente. Mas aff, Nova Zelândia..... Ninguém nem sabe qual a capital da Nova Zelândia...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A Causa Secreta (Machado de Assis)




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GARCIA, EM PÉ, mirava e estalava as unhas; Fortunato, na cadeira de balanço, olhava para o
tecto; Maria Luísa, perto da janela, concluía um trabalho de agulha. Havia já cinco minutos que
nenhum deles dizia nada. Tinham falado do dia, que estivera excelente, — de Catumbi, onde
morava o casal Fortunato, e de uma casa de saúde, que adiante se explicará. Como os três
personagens aqui presentes estão agora mortos e enterrados, tempo é de contar a história sem
rebuço.
Tinham falado também de outra cousa, além daquelas três, cousa tão feia e grave, que não lhes
deixou muito gosto para tratar do dia, do bairro e da casa de saúde. Toda a conversação a este
respeito foi constrangida. Agora mesmo, os dedos de Maria Luísa parecem ainda trêmulos, ao passo
que há no rosto de Garcia uma expressão de severidade, que lhe não é habitual. Em verdade, o que
se passou foi de tal natureza, que para fazê-lo entender é preciso remontar à origem da situação.
Garcia tinha-se formado em medicina, no ano anterior, 1861. No de 1860, estando ainda na
Escola, encontrou-se com Fortunato, pela primeira vez, à porta da Santa Casa; entrava, quando o
outro saía. Fez-lhe impressão a figura; mas, ainda assim, tê-la-ia esquecido, se não fosse o segundo
encontro, poucos dias depois. Morava na rua de D. Manoel. Uma de suas raras distrações era ir ao
teatro de S. Januário, que ficava perto, entre essa rua e a praia; ia uma ou duas vezes por mês, e
nunca achava acima de quarenta pessoas. Só os mais intrépidos ousavam estender os passos até
aquele recanto da cidade. Uma noite, estando nas cadeiras, apareceu ali Fortunato, e sentou-se ao pé
dele.
A peça era um dramalhão, cosido a facadas, ouriçado de imprecações e remorsos; mas Fortunato
ouvia-a com singular interesse. Nos lances dolorosos, a atenção dele redobrava, os olhos iam
avidamente de um personagem a outro, a tal ponto que o estudante suspeitou haver na peça
reminiscências pessoais do vizinho. No fim do drama, veio uma farsa; mas Fortunato não esperou
por ela e saiu; Garcia saiu atrás dele. Fortunato foi pelo beco do Cotovelo, rua de S. José, até o largo
da Carioca. Ia devagar, cabisbaixo, parando às vezes, para dar uma bengalada em algum cão que
dormia; o cão ficava ganindo e ele ia andando. No largo da Carioca entrou num tílburi, e seguiu
para os lados da praça da Constituição. Garcia voltou para casa sem saber mais nada.
Decorreram algumas semanas. Uma noite, eram nove horas, estava em casa, quando ouviu rumor
de vozes na escada; desceu logo do sótão, onde morava, ao primeiro andar, onde vivia um
empregado do arsenal de guerra. Era este que alguns homens conduziam, escada acima,
ensangüentado. O preto que o servia acudiu a abrir a porta; o homem gemia, as vozes eram
confusas, a luz pouca. Deposto o ferido na cama, Garcia disse que era preciso chamar um médico.
— Já aí vem um, acudiu alguém.
Garcia olhou: era o próprio homem da Santa Casa e do teatro. Imaginou que seria parente ou
amigo do ferido; mas rejeitou a suposição, desde que lhe ouvira perguntar se este tinha família ou
pessoa próxima. Disse-lhe o preto que não, e ele assumiu a direção do serviço, pediu às pessoas
estranhas que se retirassem, pagou aos carregadores, e deu as primeiras ordens. Sabendo que o
Garcia era vizinho e estudante de medicina pediu-lhe que ficasse para ajudar o médico. Em seguida
contou o
que se passara.
— Foi uma malta de capoeiras. Eu vinha do quartel de Moura, onde fui visitar um primo, quando
ouvi um barulho muito grande, e logo depois um ajuntamento. Parece que eles feriram também a
um sujeito que passava, e que entrou por um daqueles becos; mas eu só vi a este senhor, que
atravessava a rua no momento em que um dos capoeiras, roçando por ele, meteu-lhe o punhal. Não
caiu logo; disse onde morava e, como era a dois passos, achei melhor trazê-lo.
— Conhecia-o antes? perguntou Garcia.
— Não, nunca o vi. Quem é?
— É um bom homem, empregado no arsenal de guerra. Chama-se Gouvêa.
— Não sei quem é.
Médico e subdelegado vieram daí a pouco; fez-se o curativo, e tomaram-se as informações. O
desconhecido declarou chamar-se Fortunato Gomes da Silveira, ser capitalista, solteiro, morador em
Catumbi. A ferida foi reconhecida grave. Durante o curativo ajudado pelo estudante, Fortunato
serviu de criado, segurando a bacia, a vela, os panos, sem perturbar nada, olhando friamente para o
ferido, que gemia muito. No fim, entendeu-se particularmente com o médico, acompanhou-o até o
patamar da escada, e reiterou ao subdelegado a declaração de estar pronto a auxiliar as pesquisas da
polícia. Os dous saíram, ele e o estudante ficaram no quarto.
Garcia estava atônito. Olhou para ele, viu-o sentar-se tranqüilamente, estirar as pernas, meter as
mãos nas algibeiras das calças, e fitar os olhos no ferido. Os olhos eram claros, cor de chumbo,
moviam-se devagar, e tinham a expressão dura, seca e fria. Cara magra e pálida; uma tira estreita de
barba, por baixo do queixo, e de uma têmpora a outra, curta, ruiva e rara. Teria quarenta anos. De
quando em quando, voltava-se para o estudante, e perguntava alguma coisa acerca do ferido; mas
tornava logo a olhar para ele, enquanto o rapaz lhe dava a resposta. A sensação que o estudante
recebia era de repulsa ao mesmo tempo que de curiosidade; não podia negar que estava assistindo a
um ato de rara dedicação, e se era desinteressado como parecia, não havia mais que aceitar o
coração humano como um poço de mistérios.
Fortunato saiu pouco antes de uma hora; voltou nos dias seguintes, mas a cura fez-se depressa, e,
antes de concluída, desapareceu sem dizer ao obsequiado onde morava. Foi o estudante que lhe deu
as indicações do nome, rua e número.
— Vou agradecer-lhe a esmola que me fez, logo que possa sair, disse o convalescente.
Correu a Catumbi daí a seis dias. Fortunato recebeu-o constrangido, ouviu impaciente as palavras
de agradecimento, deu-lhe uma resposta enfastiada e acabou batendo com as borlas do chambre no
joelho. Gouvêa, defronte dele, sentado e calado, alisava o chapéu com os dedos, levantando os
olhos de quando em quando, sem achar mais nada que dizer. No fim de dez minutos, pediu licença
para sair, e saiu.
— Cuidado com os capoeiras! disse-lhe o dono da casa, rindo-se.
O pobre-diabo saiu de lá mortificado, humilhado, mastigando a custo o desdém, forcejando por
esquecê-lo, explicá-lo ou perdoá-lo, para que no coração só ficasse a memória do benefício; mas o
esforço era vão. O ressentimento, hóspede novo e exclusivo, entrou e pôs fora o benefício, de tal
modo que o desgraçado não teve mais que trepar à cabeça e refugiar-se ali como uma simples idéia.
Foi assim que o próprio benfeitor insinuou a este homem o sentimento da ingratidão.
Tudo isso assombrou o Garcia. Este moço possuía, em gérmen, a faculdade de decifrar os
homens, de decompor os caracteres, tinha o amor da análise, e sentia o regalo, que dizia ser
supremo, de penetrar muitas camadas morais, até apalpar o segredo de um organismo. Picado de
curiosidade, lembrou-se de ir ter com o homem de Catumbi, mas advertiu que nem recebera dele o
oferecimento formal da casa. Quando menos, era-lhe preciso um pretexto, e não achou nenhum.
Tempos depois, estando já formado e morando na rua de Matacavalos, perto da do Conde,
encontrou Fortunato em uma gôndola, encontrou-o ainda outras vezes, e a freqüência trouxe a
familiaridade. Um dia Fortunato convidou-o a ir visitá-lo ali perto, em Catumbi.
— Sabe que estou casado?
— Não sabia.
— Casei-me há quatro meses, podia dizer quatro dias. Vá jantar conosco domingo.
— Domingo?
— Não esteja forjando desculpas; não admito desculpas. Vá domingo.
Garcia foi lá domingo. Fortunato deu-lhe um bom jantar, bons charutos e boa palestra, em
companhia da senhora, que era interessante. A figura dele não mudara; os olhos eram as mesmas
chapas de estanho, duras e frias; as outras feições não eram mais atraentes que dantes. Os
obséquios, porém, se não resgatavam a natureza, davam alguma compensação, e não era pouco.
Maria Luísa é que possuía ambos os feitiços, pessoa e modos. Era esbelta, airosa, olhos meigos e
submissos; tinha vinte e cinco anos e parecia não passar de dezenove. Garcia, à segunda vez que lá
foi, percebeu que entre eles havia alguma dissonância de caracteres, pouca ou nenhuma afinidade
moral, e da parte da mulher para com o marido uns modos que transcendiam o respeito e
confinavam na resignação e no temor. Um dia, estando os três juntos, perguntou Garcia a Maria
Luísa se tivera notícia das circunstâncias em que ele conhecera o marido.
— Não, respondeu a moça.
— Vai ouvir uma ação bonita.
— Não vale a pena, interrompeu Fortunato.
— A senhora vai ver se vale a pena, insistiu o médico.
Contou o caso da rua de D. Manoel. A moça ouviu-o espantada. Insensivelmente estendeu a mão
e apertou o pulso ao marido, risonha e agradecida, como se acabasse de descobrir-lhe o coração.
Fortunato sacudia os ombros, mas não ouvia com indiferença. No fim contou ele próprio a visita
que o ferido lhe fez, com todos os pormenores da figura, dos gestos, das palavras atadas, dos
silêncios, em suma, um estúrdio. E ria muito ao contá-la. Não era o riso da dobrez. A dobrez é
evasiva e
oblíqua; o riso dele era jovial e franco.
" Singular homem!" pensou Garcia.
Maria Luísa ficou desconsolada com a zombaria do marido; mas o médico restituiu-lhe a
satisfação anterior, voltando a referir a dedicação deste e as suas raras qualidades de enfermeiro; tão
bom enfermeiro, concluiu ele, que, se algum dia fundar uma casa de saúde, irei convidá-lo.
— Valeu? perguntou Fortunato.
— Valeu o quê?
— Vamos fundar uma casa de saúde?
— Não valeu nada; estou brincando.
— Podia-se fazer alguma cousa; e para o senhor, que começa a clínica, acho que seria bem bom.
Tenho justamente uma casa que vai vagar, e serve.
Garcia recusou nesse e no dia seguinte; mas a idéia tinha-se metido na cabeça ao outro, e não foi
possível recuar mais. Na verdade, era uma boa estréia para ele, e podia vir a ser um bom negócio
para ambos. Aceitou finalmente, daí a dias, e foi uma desilusão para Maria Luísa. Criatura nervosa
e frágil, padecia só com a idéia de que o marido tivesse de viver em contato com enfermidades
humanas, mas não ousou opor-se-lhe, e curvou a cabeça. O plano fez-se e cumpriu-se depressa.
Verdade é que Fortunato não curou de mais nada, nem então, nem depois. Aberta a casa, foi ele o
próprio administrador e chefe de enfermeiros, examinava tudo, ordenava tudo, compras e caldos,
drogas e contas.
Garcia pôde então observar que a dedicação ao ferido da rua D. Manoel não era um caso fortuito,
mas assentava na própria natureza deste homem. Via-o servir como nenhum dos fâmulos. Não
recuava diante de nada, não conhecia moléstia aflitiva ou repelente, e estava sempre pronto para
tudo, a qualquer hora do dia ou da noite. Toda a gente pasmava e aplaudia. Fortunato estudava,
acompanhava as operações, e nenhum outro curava os cáusticos.
— Tenho muita fé nos cáusticos, dizia ele.
A comunhão dos interesses apertou os laços da intimidade. Garcia tornou-se familiar na casa; ali
jantava quase todos os dias, ali observava a pessoa e a vida de Maria Luísa, cuja solidão moral era
evidente. E a solidão como que lhe duplicava o encanto. Garcia começou a sentir que alguma coisa
o agitava, quando ela aparecia, quando falava, quando trabalhava, calada, ao canto da janela, ou
tocava ao piano umas músicas tristes. Manso e manso, entrou-lhe o amor no coração. Quando deu
por ele, quis expeli-lo para que entre ele e Fortunato não houvesse outro laço que o da amizade; mas
não pôde. Pôde apenas trancá-lo; Maria Luísa compreendeu ambas as coisas, a afeição e o silêncio,
mas não se deu por achada.
No começo de outubro deu-se um incidente que desvendou ainda mais aos olhos do médico asituação da moça. Fortunato metera-se a estudar anatomia e fisiologia, e ocupava-se nas horas vagas
em rasgar e envenenar gatos e cães. Como os guinchos dos animais atordoavam os doentes, mudou
o laboratório para casa, e a mulher, compleição nervosa, teve de os sofrer. Um dia, porém, não
podendo mais, foi ter com o médico e pediu-lhe que, como cousa sua, alcançasse do marido a
cessação de tais experiências.
— Mas a senhora mesma...
Maria Luísa acudiu, sorrindo:
— Ele naturalmente achará que sou criança. O que eu queria é que o senhor, como médico, lhe
dissesse que isso me faz mal; e creia que faz...
Garcia alcançou prontamente que o outro acabasse com tais estudos. Se os foi fazer em outra
parte, ninguém o soube, mas pode ser que sim. Maria Luísa agradeceu ao médico, tanto por ela
como pelos animais, que não podia ver padecer. Tossia de quando em quando; Garcia perguntou-lhe
se tinha alguma coisa, ela respondeu que nada.
— Deixe ver o pulso.
— Não tenho nada.
Não deu o pulso, e retirou-se. Garcia ficou apreensivo. Cuidava, ao contrário, que ela podia ter
alguma coisa, que era preciso observá-la e avisar o marido em tempo.
Dois dias depois, — exatamente o dia em que os vemos agora, — Garcia foi lá jantar. Na sala
disseram-lhe que Fortunato estava no gabinete, e ele caminhou para ali; ia chegando à porta, no
momento em que Maria Luísa saía aflita.
— Que é? perguntou-lhe.
— O rato! O rato! exclamou a moça sufocada e afastando-se.
Garcia lembrou-se que na véspera ouvira ao Fortunado queixar-se de um rato, que lhe levara um
papel importante; mas estava longe de esperar o que viu. Viu Fortunato sentado à mesa, que havia
no centro do gabinete, e sobre a qual pusera um prato com espírito de vinho. O líquido flamejava.
Entre o polegar e o índice da mão esquerda segurava um barbante, de cuja ponta pendia o rato atado
pela cauda. Na direita tinha uma tesoura. No momento em que o Garcia entrou, Fortunato cortava
ao rato uma das patas; em seguida desceu o infeliz até a chama, rápido, para não matá-lo, e dispôsse
a fazer o mesmo à terceira, pois já lhe havia cortado a primeira. Garcia estacou horrorizado.
— Mate-o logo! disse-lhe.
— Já vai.
E com um sorriso único, reflexo de alma satisfeita, alguma coisa que traduzia a delícia íntima das
sensações supremas, Fortunato cortou a terceira pata ao rato, e fez pela terceira vez o mesmo
movimento até a chama. O miserável estorcia-se, guinchando, ensangüentado, chamuscado, e não
acabava de morrer. Garcia desviou os olhos, depois voltou-os novamente, e estendeu a mão para
impedir que o suplício continuasse, mas não chegou a fazê-lo, porque o diabo do homem impunha
medo, com toda aquela serenidade radiosa da fisionomia. Faltava cortar a última pata; Fortunato
cortou-a muito devagar, acompanhando a tesoura com os olhos; a pata caiu, e ele ficou olhando para
o rato meio cadáver. Ao descê-lo pela quarta vez, até a chama, deu ainda mais rapidez ao gesto,
para salvar, se pudesse, alguns farrapos de vida.
Garcia, defronte, conseguia dominar a repugnância do espetáculo para fixar a cara do homem.
Nem raiva, nem ódio; tão-somente um vasto prazer, quieto e profundo, como daria a outro a
audição de uma bela sonata ou a vista de uma estátua divina, alguma coisa parecida com a pura
sensação estética. Pareceu-lhe, e era verdade, que Fortunato havia-o inteiramente esquecido. Isto
posto, não estaria fingindo, e devia ser aquilo mesmo. A chama ia morrendo, o rato podia ser que
tivesse ainda
um resíduo de vida, sombra de sombra; Fortunato aproveitou-o para cortar-lhe o focinho e pela
última vez chegar a carne ao fogo. Afinal deixou cair o cadáver no prato, e arredou de si toda essa
mistura de chamusco e sangue.
Ao levantar-se deu com o médico e teve um sobressalto. Então, mostrou-se enraivecido contra oanimal, que lhe comera o papel; mas a cólera evidentemente era fingida.
"Castiga sem raiva", pensou o médico, "pela necessidade de achar uma sensação de prazer, que
só a dor alheia lhe pode dar: é o segredo deste homem".
Fortunato encareceu a importância do papel, a perda que lhe trazia, perda de tempo, é certo, mas
o tempo agora era-lhe preciosíssimo. Garcia ouvia só, sem dizer nada, nem lhe dar crédito.
Relembrava os atos dele, graves e leves, achava a mesma explicação para todos. Era a mesma troca
das teclas da sensibilidade, um diletantismo sui generis, uma redução de Calígula.
Quando Maria Luísa voltou ao gabinete, daí a pouco, o marido foi ter com ela, rindo, pegou-lhe
nas mãos e falou-lhe mansamente:
— Fracalhona!
E voltando-se para o médico:
— Há de crer que quase desmaiou?
Maria Luísa defendeu-se a medo, disse que era nervosa e mulher; depois foi sentar-se à janela
com as suas lãs e agulhas, e os dedos ainda trêmulos, tal qual a vimos no começo desta história. Hão
de lembrar-se que, depois de terem falado de outras coisas, ficaram calados os três, o marido
sentado e olhando para o teto, o médico estalando as unhas. Pouco depois foram jantar; mas o jantar
não foi alegre. Maria Luísa cismava e tossia; o médico indagava de si mesmo se ela não estaria
exposta a
algum excesso na companhia de tal homem. Era apenas possível; mas o amor trocou-lhe a
possibilidade em certeza; tremeu por ela e cuidou de os vigiar.
Ela tossia, tossia, e não se passou muito tempo que a moléstia não tirasse a máscara. Era a tísica,
velha dama insaciável, que chupa a vida toda, até deixar um bagaço de ossos. Fortunato recebeu a
notícia como um golpe; amava deveras a mulher, a seu modo, estava acostumado com ela, custavalhe
perdê-la. Não poupou esforços, médicos, remédios, ares, todos os recursos e todos os paliativos.
Mas foi tudo vão. A doença era mortal.
Nos últimos dias, em presença dos tormentos supremos da moça, a índole do marido subjugou
qualquer outra afeição. Não a deixou mais; fitou o olho baço e frio naquela decomposição lenta e
dolorosa da vida, bebeu uma a uma as aflições da bela criatura, agora magra e transparente,
devorada de febre e minada de morte. Egoísmo aspérrimo, faminto de sensações, não lhe perdoou
um só minuto de agonia, nem lhos pagou com uma só lágrima, pública ou íntima. Só quando ela
expirou, é que ele ficou aturdido. Voltando a si, viu que estava outra vez só.
De noite, indo repousar uma parenta de Maria Luísa, que a ajudara a morrer, ficaram na sala
Fortunato e Garcia, velando o cadáver, ambos pensativos; mas o próprio marido estava fatigado, o
médico disse-lhe que repousasse um pouco.
— Vá descansar, passe pelo sono uma hora ou duas: eu irei depois.
Fortunato saiu, foi deitar-se no sofá da saleta contígua, e adormeceu logo. Vinte minutos depois
acordou, quis dormir outra vez, cochilou alguns minutos, até que se levantou e voltou à sala.
Caminhava nas pontas dos pés para não acordar a parenta, que dormia perto. Chegando à porta,
estacou assombrado.
Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as
feições defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi
nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo da
amizade, podia ser o epílogo de um livro adúltero. Não tinha ciúmes, note-se; a natureza compô-lo
de maneira que lhe não deu ciúmes nem inveja, mas dera-lhe vaidade, que não é menos cativa ao
ressentimento.
Olhou assombrado, mordendo os beiços.
Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver; mas então não pôde mais. O
beijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões,
lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou
tranqüilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.



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sábado, 13 de dezembro de 2008

Pra vc q sou eu.

Ta tarde, né?
Pois é, consegui um trampo num restaurante francês. Mas não é um restaurante apenas. É um restaurante balada. Eu sou garçonete do Lounge. Isso não é uma coisa muito boa. O lounge é um setor entre o restaurante e a balada. As pessoas se sentam ali pra esperar, pra comer porções, pra namorar... É foda. Lá eu não ganho gorjeta, eu trabalho desde a hora q abre até a hora q fecha, eu tenho q aguentar os bêbados da balada q caem pelos sofas. As pessoas ricas mesmo não fequentam o lounge. É interessante trabalhar nesse restaurante para observar. Observar o comportamento desses outros seres. A maioria tenta parecer coisas q não são. Mas tem algumas pessoas autênticas tb. 
Bem, qdo eu era criança meu pai tinha um bar. Um bar grande, em Campinas. Ilustrada. Devia ser muito foda pra ele. Hj to tendo mais noção disso. Sei q um dos meus sonhos nessa época era trabalhar de garçonete. Pq eu via as garçonetes, achava elas bonitas, descoladas. Queria ser igual a elas. Enfim, mais um sonho. E já ta me dando sono.
Acho q no próximo post eu esclareço melhor sobre meus sonhos. Foram/são tantos sonhos...

SoNhoS... sOnHos... SohNoS...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Pergunte ao Freud.

AVISO AOS NAVEGANTES: antes de comentar, felicitar-se ou aborrecer-se, certifique-se de que os assuntos dos quais eu trato aqui e as pessoas envolvidas realmente são quem ou o que vc pensa q são... pq pode parecer q eu escrevo pra vc, mas provavelmente não é pra vc q escrevo. Eu escrevo pra mim e sobre mim, como uma reminiscência de algo q ainda não aconteceu. É muito pessoal mesmo.
Mas ao mesmo tempo é tipo horóscopo, saca. Qqr um pode se identificar. Tb não se chateie se vc pensou q era pra vc.
ESCLARECENDO À UM NAVEGANTE EM ESPECIAL: Existem muitos amores em minha vida, grandes amores. Talvez mais do q na sua, por tristes razões q talvez Freud explique. 
Provavelmente pq sentimentalismo e cafonice são duas coisas muito legais!
Nunca li Harry Potter, mas pelo menos sei como escreve. E tenho certeza q prefiro Neruda.
Mas não se aborreça comigo. Eu tenho muita sorte mesmo, falta-me medo. Seu sarcasmo é muito triste e como conselho para vc nesse momento cito meu preferido televisivo: "A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena!" (MADRUGA S.)
Tenho certeza que seríamos amigas se não fosse seu rancor.
Agradeço o desejo de felicidades, mas tenho q dizer q esse não é recíproco.
À bientôt!




quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

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... me encante da maneira que você quiser, como você souber ...




neruda